sábado, 26 de dezembro de 2009

História das Copas- Parte 2- 1934- Itália

Antes da Copa Começar
Desde 1928, a Itália queria sediar a Copa do Mundo. O sonho não pode ser realizado em 1930, mas o ditador fascista, Benito Mussolini, não iria admitir uma segunda derrota. Ele queria que seu país fosse a sede da segunda edição da Copa.

Foram precisos 8 Congressos da FIFA, além pressões e até mesmo alguns casos(não comprovados, mas plenamente plausíveis)de subrono. Em 8 de Outubro de 1932, em Estocolmo, o Duce pode finalmente realizar seu sonho. Com a desistencia da Suécia, a Copa do Mundo seria realizada na Itália. E ele poderia mostrar ao mundo que seu regime era o que de havia de melhor.

O próximo passo seria reformar todos os estádios que sediariam jogos da Copa. Muito dinheiro foi gasto, mesmo para os que apenas iriam sediar uma única partida. Era mais uma demonstração de força do Duce. Foram criadas várias loterias para cobrir os enormes gastos. Pelo menos por 1 ano, não faltou emprego para ninguém.

O terceiro e mais importante passo do plano do ditador era o de fazer de tudo para garantir que a Azzurra fosse a campeã. Para isso, foi escolhido o jornalista Vitorio Pozzo, para ser o treinador. Ele era muito competente, fazia anotações e estudava os seus adversários. Meio pai, meio ditador, ele era muito respeitado por seus comandados.

Montou-se também, uma rede de olheiros pelo mundo, para que os melhores Oriundi(jogadores que já poderiam até ter atuado por outras seleções, mas se tivessem avós italianos, poderiam ser integrados a Itália). O primeiro alvo foi o argentino Monti, vice-campeão de 30. Outros 2 compatriotas se juntaram a ele, Guaita e Orsi. O último alvo foi um brasileiro. Filó, que na época jogava na Lazio.

A Itália começou a treinar em fevereiro de 34, 3 vezes por semana. Em abril, o trabalho passou a ser em período integral. Pozzo passou um longo tempo na Inglaterra, estudando o Arsenal, treinado por Herbert Chapman, que jogava no esquema WM. A Inglaterra, se recusava a disputar a Copa mas era, sem sombra de dúvidas o que havia de melhor em termos de esquemas táticos. O treinador italiano também mandou observadores para a América do Sul, a fim de observar Brasil e Argentina. Enfim, nada escaparia da organização de Pozzo.

AS Eliminatórias
A Copa do Mundo, rejeitada pelos europeus 4 anos antes, passou a ser objeto de cobiça para todos. 32 seleções se inscreveram, obrigando a FIFA, a criar as eliminatórias pela primeira vez. Como curiosidade, o país-sede foi obrigado a jogar as eliminatórias pela primeira e única vez.

No grupo 1, os EUA derrotaram o México, já em solo italiano e garantiram a vaga. No grupo 2, O Brasil se classificou automaticamente com a desistencia do Peru, assim como a Argentina no grupo 3, com a desistencia do Chile. Vale lembrar que o Uruguai, atual campeão, se recusou a ir a Copa, parte em represália contra os europeus, que não compareceream a competição organizada por eles 4 anos antes, parte para mascarar uma queda de qualidade técnica e uma crise financeira.

No grupo 4, o Egito se tornou o primeiro país africano a se classificar para uma Copa. No 5, a Suécia, no 6, a Espanha, no 7, a Itália derrotou a Grécia por 4x0, jogo realizado no San Siro, em Milão, com gols de Orsi, Filó e dois de Meazza. No 8, Áustria e Hungria, no 9, a Tchecoslováquia, no 10 a Suiça e a Romenia, no 11, Holanda e Bélgica e no 12, Alemanha Ocidental e França.

Definidos os 16 participantes da Copa, começaram a se especular sobre os favoritos. A Itália, logicamente, era apontada como a maior favorita, mas a Espanha, que havia vencido a Inglaterra e tinha no gol o grande Zamora. Hungria e Tchecoslováquia, também impressionaram ao vencer os ingleses, em um torneio realizado em Budapeste, ambos por 2x1. Mas a maior ameaça a Itália era sem sombra de dúvidas a Áustria. Dirigida por Hugo Meisl, que tinha enorme conhecimento tático. Sua equipe era chamada de Wunderteam ou time maravilhoso, e tinha como maior expoente, seu centroavante Mathias Sindelar, conhecido como homem de papel, pois parecia deslizar em campo. A vida, definitivamente, não seria fácil para a Azzurra.

A preparação do Brasil
No Brasil, a confusão de sempre permanecia. Desta vez o problema era entre a CBD(representante dos jogadores do Brasil junto a FIFA, e que não aceitava profissionais)e a Federação Brasileira de Futebol. No Rio de Janeiro, todos os times, com exceção do Botafogo, haviam aderido ao profissionalismo. Não causou estranheza, portanto, quando o alvinegro teve a base da seleção que disputou a Copa.

A CBD sabia que só mandar os “amadores” não seria o suficiente para uma boa participação na Itália. E logo ela, que sempre combateu o profissionalismo, passou a “contratar” jogadores. De São Paulo vieram 4 jogadores. Valdemar de Brito, Luizinho, Armandinho e Silvio Hoffman. Também se juntaram ao escrete, Leonidas da Silva e Tinoco. Tentou-se Fausto e Domingos da Guia, mas estes 2 últimos não aceitaram.

A confusão chegou a ser tanta, que os dirigentes do Palestra Itália, chegaram esconder vários jogadores do clube numa fazenda, no interior de São Paulo, para que a CBD não os achasse.

E foi nesse clima, sem a sua melhor seleção, que o Brasil seguiu para a Europa. No dia 14 de Maio, a seleção embarcou no navio Biancamano. Sem poder realizar treinamentos, o técnico Luis Vinhais só comandava exercícios de ginástica. Treinos com bola, só quando a embarcação parava em algum porto.

A delegação chegou a Itália no dia 24. A estréia seria no dia 27. O adversário fora definido por sorteio. Seria a Espanha, que por coincidencia, na parada do navio em Barcelona, embarcou junto com a seleção. Zamora, o grande ídolo espanhol, sabia que tinha que respeitar o Brasil. E quando ele foi visto assistindo o último treino do Brasil, na véspera da partida, deixou os brasileiros confiantes em uma bela vitória.

A Copa
Oitavas de Finais
Todas as partidas das oitavas de final, foram realizadas no mesmo dia, em 27 de Maio. Em Florença, jogaram Alemanha Ocidental e Bélgica. Kobierski fez o primeiro dos alemães, mas ainda no primeiro tempo. Voorhoof(que só jogou a Copa pois teve sua punição reduzida pela Federação Belga) virou a partida, causando surpresa nos espectadores. O gás belga porém acabou no segundo tempo. Kobierski fez mais um e Conen marcou tres vezes.

A Áustria, uma das maiores favoritas, estreiou em Turim, contra a França. Mas o Wunderteam estava nervoso e aos 19 minutos, Nicolas, o centroavante que apenas fazia número, pois havia se machucado minutos antes, abriu o placar para os franceses. No final da primeira etapa, Sindelar empatou. Mesmo com praticamente um a menos em campo, a França dominou o segundo tempo, e perdeu muitas oportunidades. A partida terminou empatada e foi para a prorrogação. Schall, marcou logo no começo(num impedimento escandaloso não assinalado). Bican ampliou para os austríacos. A França ainda diminuiu, através de Verriest. Mas Pozzo comemorava o fato do time maravilhoso não ser tão maravilhoso assim.

Em Nápoles, a Hungria goleou o Egito, por 4x2. O detalhe é que os egípcios haviam eliminado os hungaros, nos Jogos Olímpicos de 1924.

Em Bolonha, a Argentina, mesmo com uma seleção formada por amadores(a Federação não quis mandar os jogadores profissionais e correr o risco de perde-los para as grandes equipes européias após o mundial), não facilitou a vida da Suécia. Os hermanos chegaram a estar na frente do marcador por 2 vezes, mas a 15 minutos do fim, os suecos viraram a partida. Destaques para Jonasson, autor de 2 gols e de Devicenzi, que foi contratado pela Ambrosiana, forte equipe italiana da época.

Em Milão, jogaram Suiça e Holanda. Os suiços eram mais técnicos. E acabarm vencendo a partida por 3x2.

Em Trieste, a hábil equipe da Tchecoslováquia teve sérios problemas para vencer a Romenia. Os tchecos se fizeram valer da sua experiencia(média de 28 anos) e da grande atuação do goleiro Planicka, que viria a ser o melhor do mundial. A Romenia abriu o placar aos 10 minutos, através de Dobay. Mas na segunda etapa, Puc e Nejedly viraram a partida.

Em Roma, com a presença de Mussolini e várias outras autoridades importantes, os donos da casa estreiaram contra os EUA. O estádio estava lotado. Pozzo aproveitou a fragilidade americana para fazer observações. Ele sabia que o único jogador que representava real perigo a sua equipe era o atacante Donelli, oriundi de Nápoles. Ele acabou realmente marcando o gol dos EUA, mas ficou nisso. Com 3 gols de Schiavio, 2 de Orsi, 1 de Ferrara e outro de Meazza, a Itália goleou por 7x1. Essa foi a única partida do brasileiro Filó no Mundial.

E finalmente, em Genova, tivemos a estréia do Brasil contra a Espanha. E o início até que não foi tão ruim para a nossa seleção. Logo aos 10 minutos, Lánagara chutou forte e Pedrosa defendeu. O Brasil saiu para o contra-ataque e Valdemar desperdiçou boa chance, cara a cara com Zamora. Leonidas venceu Zamora, mas Quincones salvou em cima da linha. Aos 18, Martim meteu a mão na bola. Penalti contra o Brasil que Iraragorri converteu. Aos 27, Lángarra aumentou. Aos 36, Pedrosa saiu para cortar um cruzamento fácil, escorregou, caiu e a bola se ofereceu para Lángarra, novamente fazer 3x0.

No segundo tempo, a seleção partiu para o ataque, e aos 11 minutos, Zamora deu reobte num chute de Patesko e Leonidas diminuiu. Aos 15, Luizinho marcou um gol erradamente anulado. A última esperança veio num penalti cometido em cima de Leonidas. Valdemar foi para a cobrança, mas Zamora havia assistido ao último treinamento da seleção e sabia onde ele ele costuamava bater. Resultado, o goleiro espanhol defendeu a cobrança. A partir daí, o Brasil perdeu as forças. Mais uma vez, a seleção era eliminada cedo de uma Copa, enquanto a Espanha seguia em frente.

Quartas de Finais
Depois de ter passado um tremendo susto contra a França, a Áustria entrou em campo disposta a mostrar todo sua força contra a Hungria. Venceu por apenas 2x1, com gols de Horvath e Zischek, com Sarosi descontando para os húngaros. Mas apesar do placar apertado, o Wunderteam foi sempre superior e desperdiçou inúmeras chances de gol. Porém, nem tudo foram flores, a partida foi muito violenta. E a curiosidade ficou pelo duelo entre os dois melhores atacantes da Europa. Sindelar e Sarosi.

Em Milão, A Alemanha Ocidental fez 2x1 na Suéciae voltou a mostrar sua força. Os alemães fizeram 2x0, através de Hohmaan e passaram apenas a tocar a bola, sem correr grandes riscos. O gol sueco marcado aos 40 minutos do segundo tempo(feito por Dunker)não surtiu nenhum tipo de ameaça a vitória germanica.

Em um jogo empolgante, a Tchecoslováquia enfrentou a Suiça. Kielholz abriu o marcador para os suiços. Svoboda virou para os tchecos. Abegglen III empatou, mas aos 38 do segundo tempo, Nejedly fez o gol da classificação tcheca.

Em Florença, aconteceu um dos maiores jogos da história das Copas. Itália e Espanha se degladiaram por uma vaga na semifinal. O primeiro tempo foi todo espanhol, que conseguiu impor seu ritmo e marcou através de Rigueiro, aos 29 minutos.Aos 44, Ferraris IV marcou um gol irregular, pois Meazza e Orsi fizeram falta em Zamora. O goleiro espanhol, aliás, foi o grande nome da segunda etapa, realizando pelo menos 5 grandes defesas. O empate forçou a prorrogação que terminou em 0x0. Ao final da batalha, Pizziolo, Schiavio e Ferrari, pela Azurra e Ciriaco, Fede, Lafuente, Iraragorri, Lángara, Gorostiza e Zamora, pela fúria, não teriam condições de jogar a partida desempate(conforme previa o regulamento)24 horas depois. A violencia, principalmente de Monti, havia aniquilado a Espanha.

Na partida extra, novamente, a violencia deu o tom, com entradas desleais de parte a parte, mas a Azuura conseguiu um gol logo aos 11 minutos do primeiro tempo, através de Meazza e passou o restante da partida se defendendo. O Duce podia respirar aliviado, a Itália seguia na Copa.

As semifinais
Em Roma, a Tchecoslováquia jogou sua melhor partida na competição e derrotaram a Alemanha(para alívio de Mussolini, que não queria enfrentar os alemães de seu amigo Hitler na decisão). Nejedly abriu o placar, mas Novack empatou o jogo. Nejedly, porém, estava demais e marcou mais duas vezes para garantir as vaga tcheca na decisção.

Em Milão, a Itália contou com a ajuda divina para vencer os fortes austríacos. Caiu um temporal antes e durante a partida. O leve time da Áustria não conseguia se achar em campo. Mais forte fisicamente, os italianos marcaram seu gol logo aos 10 minutos do primeiro tempo, com Guaita. E depois usaram e abusaram da violencia e do jogo viril para parar Sindelar e compania. A Azzurra estava na decisão.

Disputa do terceiro lugar
Pela primeiva vez foi disputada uma partida de disputa do terceiro lugar. Com 2 gols de Lehner e 1 de Conen, contra 1 de Horvath e outro de Sesta, os alemães derrotaram os austríacos por 3x2 e ficaram com a terceira posição da Copa.

A Final
O clima era de tensão naquele 10 de Junho. Mussolini estava nervoso, havia convidado os jogadores da Azzurra e Pozzo para uma parada militar em Roma. O treinador não quis saber de distrações para os jogadores e argumentou com o ditador que no esporte, nem sempre o melhor ganha. O Duce não queria saber de desculpas. Aceitou as ponderações com relação ao desfile, mas mandou um bilhete a delegação, onde deixava claro o que queria naquela decisção, “ Vençam ou aguentem as consequencias”.

Pozzo mudou a tática de sua equipe após assistir um treino dos tchecos. Ao invés de cruzamentos na área, pediu bolas rasteiras e a entrada em diagonal de Orsi e Guaita. Monti, recuperado de contusão, comandava o meio de campo italiano. Mas apesar do domínio, o primeiro tempo terminou em 0x0.

Aos 25 minutos da segunda etapa, Puc marcou para os tchecos. Silencio no estádio. O Duce estava impaciente e nervoso. Aos 34, Svoboda poderia ter matado o jogo para o tchecos, mas seu chute explodiu na trave de Combi. O ditado de quem não faz leva provou mais uma vez ser verdadeiro. Aos 35, Orsi empatou a partida, levando todos ao delírio. Pozzo, não entrou na euforia da torcida e pediu para sua equipe tocar a bola e esperar a prorrogação.

Logo aos 5 minutos da prorrogação, Meazza lançou Guaita, que, pela direita, prendeu a bola e esperou a entrada de algum companheiro na diagonal. Schiavio entrou e tocou na saída de Planicka. A Azuura estava na frente, 2x1. Os últimos 25 minutos foram um sofrimento só para Pozzo e o Duce. A Tchecoslváquia pressionou, mas a Itália resistiu bravamente, graças a raça e disposição de seus jogadores.

Fim de jogo, a Itália era campeã mundial de futebol pela primeira vez. Das tribunas Benito Mussolini acenava para todos. Ele não resistiu e acabou descendo para o campo, a fim de entregar pessoalmente a Taça para o capitão Combi. E ainda viu todos os jogadores perfilados no lugar mais alto do pódio, com o sinal do regime fascista. Mussolini era, sem sombra de dúvidas, o grande vencedor da Copa Do Mundo.

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