sábado, 19 de dezembro de 2009

História das Copas parte 1- 1930 Uruguai

Como foi visto no item anterior, os países do continente americano estariam em peso no Uruguai para a primeira grande festa do futebol mundial. Rimet, fez questão de garantir a presença da França na Copa. Renomado advogado que era, ele próprio negociou a liberação do trabalho de alguns jogadores, que assim puderam se ausentar por dois meses. Ele só falhou ao não conseguir a liberação do grande ídolo do Racing de Paris, clube que ele mesmo ajudara a fundar, Manuel Anatol . A Bélgica chegou a pensar em desistir mas foi decisiva a intervenção de Rodolphe William Seeldrayers, Vice-Presidente da FIFA e futuro sucessor de Rimet. Mas assim como seu colega frances, ele não teve exito em conseguir a liberação do maior astro do seu país, Raymond Braine, que preferiu jogar profissionalmente, mudando-se para a Tchecoslováquia. Na Romenia, foi o próprio Rei Carol quem se encarregou de escalar a equipe nacional. E sabendo da participação romena, a Iuguslávia, então grande rival esportiva da Romenia, não poderia ficar de fora da festa. Com quatro Europeus e 13 seleções ao todo, a festa no Uruguai estava finalmente pronta para começar.
Em janeiro de 1930, Rimet foi a um pouco conhecido escultor frances,chamado Abel Lafleur, para encomendar o troféu que seria entregue ao primeiro campeão do mundo de futebol. Por cinquenta francos suiços, uma verdadeira fortuna na época, Lafleur fez uma estatueta de 30 cm de altura,com 4 quilos de peso, sendo 1,8 de puro ouro, com base de mármore, simbolizava a vitória. E mais tarde seria conhecida como Taça Jules Rimet.
Com a partida de abertura da Copa marcada para o dia 13 de Julho, as seleções européias começaram a embarcar rumo a América do Sul. No dia 20 de junho, seguiram viagem as delegações da Bélgica, Romenia e França, além do próprio Rimet com a Taça do Mundo. Todos eles estavam a bordo do transatlantico Conte Verde. No dia 25, no transatlantico Flórida, embarcava a Iuguslávia, que preferiu não ir no mesmo navio que seus rivais romenos.
A seleção brasileira foi uma das primeiras a confirmar a participação no mundial. O Presidente da CBD, Renato Pacheco, formou a comissão técnica da seleção apenas com cariocas, o que causou uma imensa revolta nos dirigentes paulistas. Teve início então uma enorme briga que iria enfraquecer o Brasil na Copa. No dia 3 de junho, Pacheco enviou telegrama a APEA(que correspondia a Federação Paulista da época), requisitando a convocação de 11 atletas(vale ressaltar que mesmo com futebol brasileiro praticamente resumido a Rio e São Paulo, por uma incrível “coincidencia” haviam 11 atletas paulistas e 11 cariocas na convocação). Os atletas paulistas chamados eram os seguintes. Amicar, Athie, Del Debbio, Grané, Araken, Heitor, Petronilho de Brito(irmão de Waldemar, o descobridor de Pelé), Filó, Feitiço, De Maria e o maior jogador brasileiro da época, Arthur Friedenreich.
São Paulo, porém, não tendo sido atendido em seu pedido de cargos na comissão técnica, não cedeu os jogadores e boicotou a seleção.A CBD então tratou de convocar novos jogadores, cariocas é claro, para completar o escrete. O paulista Araken, rompeu com o Santos e resolveu se apresentar para disputar a Copa. O Brasil, portanto, ia para seu primeiro mundial, com uma seleção carioca, reforçada com um único paulista e sem seu maior jogador.
No dia 2 de julho, após apenas dois treinos, a delegação brasileira(carioca) embarva no Conte Verde rumo ao Uruguai. E já havia um excesso de cartolas viajando com a delegação(prática até os dias de hoje comum). Além de todos os problemas, faltou a seleção um mínimo de organização, nem Técnico a seleção possuia. Quem respondia pelo cargo era ora Píndaro de Carvalho, ora Vinelli Moraus ou até mesmo o árbitro brasileiro do mundial Gilbeto de Almeida Rego.
A viagem foi uma verdadeira tortura para os brasileiros, que sem espaço no navio, não coneguiam se exercitar. A maioria só fazia algumas leves movimentações no convés e algumas horas de natação. Quando o navio parava em algum porto, a delegação descia e tentava realizar algum treinamento com bola. O resultado disso tudo foi que os jogadores acabaram engordando muito durante a viagem e chegaram a Montividéu completamente fora de forma.
No dia 5 de julho, o Conte verde aportou no Uruguai, A delegação do Brasil seguiu para o hotel Colón, primeira concentração brasileira em uma Copa do Mundo. A temperatura era muito baixa. E a seleção tremia e não conseguia treinar direito.
11 de julho foi a data do sorteio dos grupos. Os cabeças de chave ficaram assim definidos. Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. Os grupos da Copa ficaram assim definidos. Grupo A Argentina, França,México e Chile, Grupo B Brasil, Iuguslávia e Bolívia, Grupo C Uruguai, Romenia e Peru, Grupo D Paraguai, Bélgica e EUA.
A França queria estreiar no dia 14 de julho, dia em que comemora a queda da Bastilha. Para compensar a impossibilidade de atender ao seu pedido, a FIFA definiu que o jogo de abertura da Copa seria disputado entre França e México no dia 13 de julho.
GRUPO A
No dia 13 de julho, no Estádio de Pocitos, que pertencia ao Penarol(o Centenário estava com as obras atrasadas e só seria entregue para a estréia do Uruguai, no dia 18), entravam em campo França e México, para a abertura oficial da primeira Copa do Mundo de futebol da FIFA.
E, aos 19 minutos do primeiro tempo, Lucien Laurent, um modesto meia esquerda do Sochaux e que fazia apenas a sua terceira partida pela seleção francesa, deu um chute seco, da entrada da área, e abriu o marcador para os franceses. Mais do que isso, marcou o primeiro gol da história dos mundiais.
Mesmo jogando com um jogador a menos durante boa parte do tempo, pois o goleiro Thepot teve que sair machucado, e não se permitiam substituições, A França goleou o mal preparado México, por 4x1.
O segundo jogo do grupo, foi disputado no dia 15, entre Aregntina e França. O jogo foi uma batalha campal. O centro-médio argentino, Luisito Monti bateu em quem quis e contou com a ajuda do árbitro brasileiro Gilberto de Almeida Rego. Aos 36 minutos do segundo tempo, o próprio Monti marcou o gol da vitória argentina. O mais lance mais polemico, porém aconteceu aos 39 minutos, quando o ponteiro frances Langiller passou por dois marcadores e entregou a bola para Maschiot, que encontrava-se cara a cara com o goleiro e tinha grandes chances de empatar a partida..Ouve-se entretanto, um apito, dando a partida por terminada. Depois do público(que naturalmente torcia para a França devido a rivalidade com os hermanos)invadir o campo e muito protesto por parte dos jogadores, Almeida Rego resolveu admitir seu erro e fez a partida recomeçar, porém dessa vez sem perigo para os argentinos.
Nas demais partidas do grupo, o Chile estreiou vencendo o México, por 3x0, e depois bateu a combalida França, por 1x0. Como a Argentina também venceu o México, por 6x3, em partida que o fabuloso atacante Stábile marcou 3 gols, a vaga a semifinal seria decidida entre argentinos e chilenos.
A Argentina tinha muito mais time e confirmou a vitória por 3x1, garantindo assim a vaga na semifinal da Copa. Stábile marcou mais dois gols e salvou o valentão do time Monti de uma grande humilhação. O centro-médio argentino fizera uma falta desleal no pequenino chileno Subiabre, que se revoltou e ao levantar-se desferiu vários socos e pontapés no grandalhão argentino. Atonito, Monti não reagia, até que Stábile deu uns safanões em Subiabre, que teve que deixar a partida por causa das contusões. Incrivelmente, o árbitro belga Langenus, não expulslou ninguém.
GRUPO B
A data de 14 de julho entrou para a história do futebol brasileiro, pois foi o dia da primeira partida da seleção em um Copa do Mundo. Fazia muito frio, perto dos zero graus.O goleiro Joel não conseguia jogar de luvas e o massagista deixou um saco de água quente para que ele, de vez em quando, aquecesse suas mãos(providencia essa que não surtiu muito efeito, pois a água logo congelava). O certo é que os brasileiros foram envolvidos pelos iuguslavos. Araken ainda teve uma chance quando a partida ainda estava 0x0, mas por excesso de preciosimo, acabou perdendo. Aos 21 minutos, Tirnanic abriu o marcador. Aos 30 Beck ampliou e a vantagem iuguslava só não foi maior porque eles se pouparam.
Veio a segunda etapa e o Brasil melhorou. Fausto, que nessa copa ficou conhecido como “maravilha negra” empurrava o time para a frente. E apesar do frio e do medo de alguns jogadores, Preguinho fez de cabeça, aos 17 minutos o primeiro gol brasileiro em uma Copa do Mundo.
A classificação a semifinal estava praticamente impossível, pois para que isso acontecesse seria preciso a frágil seleção da Bolívia vencer os iuguslavos. E, obviamente não foi isso que aconteceu. Iuguslávia, classificada para a semifinal da Copa 4x0 Bolívia.
Restava a seleção se despedir com honra. Píndaro de Carvalho e seus outros “técnicos” fizeram 9 alterações. E o Brasil goleou a Bolívia. Moderato marcou o primeiro aos 37 minutos do primeiro tempo. Preguinho fez o segundo aos 6 minutos do segundo tempo. Moderato voltou a marcar aos 28 e Preguinho fechou o placar aos 30. Essa vitória só serviu para ser a primeira do Brasil em Copas do Mundo.
E o mais lamentável de tudo é que com sua seleção completa, o Brasil conseguiu resultados expressivos contra Argentina e Uruguai, o que levava a crer, que se não houvesse a briga entre paulistas e cariocas, a seleção poderia ter ido mais longe, e quem saber até ter sido campeã...
GRUPO C
O primeiro jogo deste gurpo aconteceu no dia 14 de junho com a viória romena por 3x1 sobre o Peru. Nesta partida ocorreu a primeira expulsão da história das Copas, quando o peruano Galindo simplesmente quebrou a perna do romeno Steiner.
No dia 18, o Estádio Centenário, ainda com cheiro de tinta e cimentos frescos, foi finalmente inaugurado. O jogo envolveria os donos da casa contra a frágil seleção peruana. O Uruguai vinha de uma pequena crise, pois já treinava a alguns meses para a Copa. O goleiro titular Andrés Lazzali, não suportou o ritmo intensivo dos treinamentos e deu uma “escapadinha” de madrugada. Quando voltou, o técnico Alberto Suppici estava o esperando e anunciou seu corte. Para o seu lugar, incrivelmente, foi convocado “Manco” Castro, um atacante que não possuía o antebraço esquerdo.
O povo uruguaio esperava uma goleada, porém os mais de 81.000 espectadores, tiveram que se conformar com uma magra vitória por 1x0, com gol de Castro, aos 15 minutos do segundo tempo.
Com o pouco expressivo resultado obtido na estréia, os uruguaios precisavam vencer a Romenia, já que o empate favoreceria os romenos por ter um melhor saldo de gols. Chegou-se a temer pelo pior, mas dessa vez o time jogou bem. Com gols de Dorado, Scarone, Anselmo e Cea garantiram vaga nas semifinais.
GRUPO D
O pior grupo da Copa teve início no dia 17 de junho, quando os EUA surpreenderam e venceram a Bélgica por 3x0, com gols de MCGhee, Florie e Paternaude.
E os norteamericanos seguiram com suas façanhas, ao vencer o Cabeça-de-chave do grupo, o Paraguai, também por 3x0. Com estes resultados, a Seleção dos EUA estava entre as quatro melhores seleções do planeta.
No útlimo jogo, já sem nenhuma importancia, o Paraguai derrotou a Bélgica, por 1x0, com gol de Pena.
SEMIFINAIS
Os confrontos das semifinais foram determinados através de sorteio(especula-se que tenha sido um sorteio dirigido para que não houvesse um confronto entre uruguais e argentinos na semi). Coube a Argentina e EUA fazerem a primeira semifinal, no dia 26 de junho.
E foi um verdaeiro massacre portenho. Stábile marcou 2 vezes, Peucelle mais duas, Monti e Scopelli marcaram os 6 gols. O EUA fez o seu de honra faltando apenas dois minutos para o término da partida, através de Brown.
No dia seguinte era a vez da Celeste confirmar seu favoritismo e avançar a decisão. E eles não deixaram por menos. Venceram pelos mesmos 6x1 que os argentinos, com a diferença que acabaram levando o primeiro gol(Vujadinovic), mas depois veio o massacre. Cea marcou 3 vezes, Anselomo duas e Iriarte fechou o marcador.
Não havia disputa do terceiro lugar na Copa de 30 e a final que todos esperavam, iria realmente acontecer. Uruguai x Argentina, numa revanche da final dos jogos olímpicos de 1928, vencida pelos uruguaios.
A FINAL
A grande final estava marcada para o dia 30 de junho, uma quarta-feira. Devido a grande rivalidade e as já conhecidas brigas, a polícia tratou de montar um esquema especial de segurança e de dimnuir a capacidade do Centenário para 70.000 pessoas.
Os argentinos tiveram direito a 20.000 ingressos e embarvam cruzando o Rio da Prata. Os que não conseguiam ir exigiam a vitória ou a morte. O clima nas concentrações era de muita tensão. Amenizada apenas pela visita de Carlos Gardel as duas concentrações.
Para a sorte dos policiais, muitos barcos que saíram da Argentina não conseguiram chegar a Montevidéo devido ao mal tempo. Com isso, o numero de torcedores argentinos foi bem menor do que o esperado.
Os problemas continuavam, principalmente na Argentina o sempre valente e temperamental Monti, estava acuado, quieto. Horas antes da decisão ele foi flagrado chorando. O que ninguém sabia é que Monti sofria com as ameaças de morte a sua mãe e esposa.
A primeira “guerra” da decisão foi vencida pelos argentinos. Cada seleção queria jogar com a sua bola. O árbitro belga Langenus(que iria deixar Montividéo logo após a partida)propos que se fizesse um sorteio. E nele, venceu a Argentina que pode jogar com a sua pelota.
A partida começou tensa, como era de se esperar, mas aos 12 minutos Dorado abriu o marcador, em passe de “Manco” Castro, que voltava ao time titular, para o time da casa. A alegria da torcida porém não iria durar muito. Aos 20, Peucelle empatou e aos 37, o artilheiro da Copa, Stábile marcou seu oitavo gol e virou a partida para os argentinos.
A torcida ficou apreensiva. O Uruguai tinha apenas 45 minutos para virar a partida. O segundo tempo começou e nada de gol de empate. Aos 12, Cea marcou para a Celeste. A torcida veio abaixo. O barulho era ensurdecedor. E os Argentinos sentiram o golpe. Aos 23, Iriarte fez o gol que colocou os donos da casa em vantagem. O título se aproximava. Mas faltava o surgimento do herói. E aos 44 minutos, o pequenino Manco Castro subiu mais que o zagueiro Della Torre e marcou o tento da vitória.
Jules Rimet entregou a Taça ao capitão da Celeste Nasazzi. O Uruguai confirmava que possuia o melhor futebol do mundo daquela época. E “Manco Castro! Pode ser considerado o primeiro herói de uma Copa do Mundo.

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